quinta-feira, 26 de março de 2009

Impotência

Eu queria conseguir escrever um texto que tivesse um calor diferente, que possuísse as palavras corretas capazes de deixar seu corpo molhado de prazer solitário, seu rosto transpirando enquanto você gira a cabeça descontroladamente, morde os lábios, fecha os olhos e geme entre a respiração ofegante, até se perder no salto de sua orgástica poesia reprimida. Nesse texto também deveria ter um pouco de maldade escorrendo no início de cada parágrafo, que fosse capaz de deixar você chorando, como uma mãe impotente após um aborto sofrido, só por ter se lembrado daquele episódio lastimável que você sempre preferiu esquecer. E por fim, deveria ter muita ironia espalhada pelas entrelinhas, sob e sobre as linhas e até pelo título. Aquela ironia que alguém como você só vê se enxergar. Eu queria tanto conseguir lapidar esse texto...
... mas eu não consigo.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Objeto

Experimente colares de todas as cores, tamanhos, preços e utilidades. Nunca saia de casa sem a bíblia, sem colírios e sem colares. Para cada tipo de pescoço existe um, com um tamanho e formato ideal. Assim como há uma parte do corpo para cada tipo de colar. Eu gosto de brincar com eles, de usar e desusar, de colocar no pé, no pescoço e no lixo do meu quarto. Gosto de tirá-los exatamente quando eu quero, de fazer de conta que me importo com eles, de usá-los para secar minhas lágrimas e de deixá-los acreditar que são infinitamente meus preferidos. Às vezes eu prefiro as pulseiras. Às vezes as tatuagens. E só de vez em quando, para minha pura diversão, eu prefiro os calores. Sabia que anéis são colares pequenos? Mas estes já não cabem mais em meus dedos vividos. Não deixe que a vida passe sem que você use, ao menos, um. Melhor do que a inocência dos colares, só mesmo o prazer de minhas poesias.

domingo, 8 de março de 2009

Condições

Se você for me beijar, primeiro, olhe nos meus olhos e deixe claro que deseja muito tudo isso, depois feche os seus para os meus poderem acreditar na sinceridade do seu coração e só então, coloque sua boca na minha e seu corpo no meu. Se os seus braços forem me envolver, que seja bem devagar e bem forte, que ele seja quente e humano, e que me obrigue a segurar qualquer eventualidade que resolva escorrer pelo canto do meu olho. E se for para me fazer carinho, que seja com a minha cabeça em seu colo, com a minha confiança em seus braços e o meu desejo todo em você. Aceite minhas condições, concorde com as músicas que eu ouço e me surpreenda com o despertar do amor.

sábado, 7 de março de 2009

Bons e melhores

Eu quero ser um ser de coração bom e chorar sem vergonha todas as vezes que me deparar com outro ser de coração bom. Mas eu também quero chorar lágrimas duvidosas quando me deparar com seres incertos, de más atitudes certas. Acho que eu devaria doar um pouco mais de paciência aos seres inseguros e imaturos, que atravessam a vida sem exercitar a racionalidade e sem ter a coragem de serem donos de uma opinião própria e de uma personalidade personalizada. Eu quero deixar de ser cínico nos momentos que finjo me importar com sua dor, com suas lágrimas e com seus beijos. Preciso parar de julgar os outros pela vital forma de pentear os dois primeiros fios de cabelo do lado direito da cabeça ou do formato que possui a unha do dedo médio. Eu quero melhorar minhas palavras, minha escrita, minha forma de abrir os olhos quando acordo e, por último, minha forma de dizer que não. No fundo, o que realmente quero é apenas ser melhor do que todos aqueles que por aqui passaram e não deixaram nenhuma boa história.