quarta-feira, 6 de junho de 2007

Do lado de fora

Eu vi na calçada um cobertor estendido, mas não me importa se há ou não um corpo ali debaixo, nem a temperatura do ambiente em que está meu coração gelado. Eu vi crianças numa ciranda debaixo do sinal e da opressão. Eu vi mais que olhos e pele, eu vi almas. Eu vi sua arrogância, seu beijo estilo Judas e seu voto na última eleição. Toda vez que eu saio de casa meu mundo desaba, eu me perco e descubro que nem conheço meu vizinho da frente. Outro dia fui assaltado e me levaram a dignidade de desfilar pelas ruas com meu sapato caríssimo. Outro dia me roubaram no caixa do supermercado, na conta de água, na de luz e no sonho de crescer. Por falar em crescer, aquelas crianças do sinal não sabem o que é isso, nem sabem que é um verbo em desenvolvimento, nem que a escola é para todos.
Eu sou uma pessoa feliz! Por que tenho senso crítico da sociedade, da minha irmã e do moço do bar. Sou muito corajoso, por que comungo todos os domingos e sou o futuro da nação, porque trago em mãos o poder da juventude.
Os problemas do mundo eu deixo aqui na poesia ou do outro lado do vidro. Dos seus problemas cuida você. Do seu mundo, seu deus. Dos seus olhos, sua imaginação.
Esse é meu exclusivo mundo, tão diferente da realidade, tão contrastante. Mas não fique com medo, esse é somente o meu mundo, e apesar de tudo, eu sou feliz.

Um comentário:

Fátima F disse...

Escreve tão bem! E eu páro no final de cada vírgula, para apreender o sentido profundo que há em cada afirmação.