sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Te descobri

Eu conheço teu corpo tão bem quanto o meu. E sei qual o gosto da sua saliva, a intensidade do brilho do teu olhar em cada situação e sei até o que você deseja quando me vê e se prende pra me dizer apenas “oi”. Eu conheço você e suas manias de ser sempre você, tão intensamente. Sei de todos seus projetos e fracassos. Sei muito bem qual é o seu ponto fraco e a palavra que você não gosta de ouvir. Conheço seus sonhos, suas senhas, suas dívidas, seus pecados e suas mentiras. Te conheço tão bem quanto a mim e é por isso que não fico perto de você e faço questão de sempre dizer “oi”. Acredito que te conheço até mais do que você mesmo.

Velho Ano Novo

Corações e olhares separados pela distância de um ano que foi novo e se tornou velho. Distância lamentável de vida e sentimentos que urgem no caminho e instiga dor. Canções iguais que tocam em volumes e tonalidades tão diferentes, mas a saudade é a mesma. Saudade dolorida de quem foi e até então não voltou, de quem foi e ainda não voltou, do tempo que passou e os sorrisos desperdiçados, das profecias elaboradas e das brincadeiras lapidadas a meia luz. Saudades dos amigos unidos sem mim e dos amigos solitários tão distantes de mim. Na vela acessa sobre a mesa da cozinha vejo brilhar fulminante a tão simples e singela chama da esperança de renovação em um ano novo qualquer que como todos os outros vem trazer o espírito de mudança e vitórias, mesmo que seja em apenas um dia. Ainda me recordo dos álbuns de fotografia e das vozes gravadas em cada figura. Ainda me recordo do Natal e do mecânico “Feliz”. Depois do ano novo, a saudade do ano velho e de todos os outros que estávamos todos reunidos. Só resta agora acreditar que tudo será diferente um dia e que o ano novo será sempre feliz...

Encontro Incompleto

Passagens e momentos, conversas e sentidos, sentimentos e luzes em meio as recordações saudosas de almas que se foram e que não tão cedo voltarão para conviver esse espírito santo de Natal. Lembranças e saudades remotas de pessoas tão importantes que nunca deixam de serem lembradas em momentos de felicidade e celebração. Lágrimas internas e amores perdidos, livros não lidos, pensamentos apenas em mente, corpos mutilados e gemidos de dor, de saudade e de medo. Nunca se pensou que o futuro fosse tão passado e que a distância fosse tão longe. Nem nunca se imaginou que a saudade fosse tão dolorida e que lágrimas fossem tão rápidas sobre a pele. Os diários choram, as almas recordam e os olhos também choram. É a vida que percorre o mundo no seu ritmo vertiginoso de despedidas e desencontros.

Segundas manhãs

Pássaros e canções percorrem o silêncio inércio da manhã perdida e cheia, de uma plena e vital segunda feira. O ar continua aqui, os móveis nunca saem do lugar, a janela que sempre permanece fechada e esses raios esperançosos de sol insistem em penetrar pelas lacunas e buracos estreitamente estreitos da janela, do teto e fechadura. O que faz esse edredom que nunca fica dobrado sobre a cama macia e sedosa? O que acontece com aquele tapete de uma cor extinta que lembra o branco e que nunca deixa a porta ficar livre, nem os pés absoletos, nem o chão transparente? Por onde andam os abajous lustrosos cobertos de cristal e ouro que deixavam pendurados bem ali ao fundo, quase que escondidos? A vida percorre a manhã e promete invadir com força a tarde e a noite e então se fará um sono tão profundo que encobrirá novamente a luz do sol e um dia revelará uma manhã fagueira em algum ponto desse universo paralelo. Enquanto isso, ainda posso ouvir o canto ensaiado dos pássaros e o silêncio inércio da manhã.