sábado, 23 de julho de 2011

Era uma caixinha de sonhos que ficava sobre a penteadeira no quarto maior daquela casa pequena. Abria-se as vezes, meio que escondido, e ficava-se ouvindo com encanto aquela melodia tão doce que embalava a bailarina num rodopio sem fim. Não havia perda de equilíbrio, não havia falta de graciosidade, nada era capaz de interromper. Tardes faceiras, rodeando as roseiras, num jardim improvisado e cuidado com tanto amor. Banhos de torneira e a rua tomada por brincadeiras de crianças ainda inocentes, sonhando um mundo, fantasiando a vida. A alegria precisava de tão pouco e estava sempre no tão pouco que se tinha. Nada faltava aos olhos de quem ainda não havia crescido. As pedras do quintal, as do muro, as da rua, as da escada... todas eram testemunhas da vida feliz erguida por ali. Ainda que o tempo molde em ruínas aquele lugar, as lembranças (lembradas por um ou por todos) sempre despertarão todas as vezes que a caixinha se abrir e a bailarina se pôr a dançar.